Hoje vou contar a história de Bruna, uma jovem menina cheia de sonhos que sorria a toa e contagiava a todos com seu auto astral e simplicidade.
Tudo começou no ano de 2009, eu tinha 13 anos, estava na 8º série. Foi um ano de muita zoeira, não ligava pra nada só queria saber de conversar e falar altas merdas com minhas amigas e meus 2 amigos. O resultado disso foi trágico levei bomba, isso mesmo repeti a 8º (que vergonha Brasil). No ano seguinte, me senti totalmente sozinha, as minhas amigas que passaram mudaram de escola (na escola só tinha o ensino fundamental) e o restante que ficou retido desistiu de estudar.
Primeiro dia de aula, vi um menino que também tinha reprovado e me enturmei com ele. Afinal nós eramos os únicos estranhos na turma (a turma do ano passado era a mesma do ano seguinte, que no caso era a 7º). Depois de algumas semanas Enzo começa a sentar no fundão e me chama, eu lógico fui ver qual era a boa. Ele me apresentou a uma menina chamada Jéssica (um dos meus amigos era apaixonado por essa menina e como ele sempre falava nela nós a apelidamos de ''Jéssiquinha'' hahaha!). Me apresentei, conversamos e na frente de Jéssica se sentava Bruna, de cara logo vi que ela não gostou de mim. Passaram algumas semanas e nos tornamos Best friends inseparáveis, do tipo que quando terminava a aula Ãamos uma na casa da outra e ficávamos conversando a tarde inteirinha no MSN.
Bruna frequentava a igreja universal, na época teve um evento da igreja chamado dia D, ela nos convidou e lá fomos nós eu, ela e Jéssica. Foi no autódromo de Interlagos, naquele dia estava um sol escaldante e o lugar estava lotado, não lembro de muita coisa desse dia, só sei que foi ai que ficamos mais unidas do que nunca. Comecei a frequentar a igreja por causa dela, e lá fizemos algumas amigas que agora não vem ao caso.
As meninas gostavam de dormir na minha casa. Na época, eu não tinha um quarto só para mim (infelizmente dividia com meus 2 irmãos) então minha mãe deixava a gente dormir na sala.
Lembro que uma certa noite nos reunimos para ''estudar'' Ãamos ter prova de matemática na manhã seguinte. Mas a verdade era que estávamos fazendo várias colinhas (era um exemplo da formula de bhaskara) e discutindo onde iriamos esconder.
O professor andava pela sala observando todo mundo, então Jéssica teve a brilhante ideia de colocar a bendita cola na sola do tênis, era o plano perfeito! Ela ia se sentar na minha frente e ficaria com os pés de uma forma em que eu conseguisse enxergar. Só que ai veio um problema, Bruna não queria participar disso, ela era muito certinha. Então chegamos a um acordo, a Jéssica continuaria com a cola no tênis e quando ela precisa-se ela cruzaria as pernas de uma certa forma que conseguisse enxergar também.
No dia da prova a Jéssica colou o papel no tênis e como ele sempre passava nas mesas entregando não nos preocupamos em amassar ou sujar. Só que dessa vez o professor fez diferente, mandou nós irmos pegar na mesa dele e até ai ok fomos, pegamos, sentamos e na hora já sabÃamos que ia dar merda. O papel ficou todo sujo e meio rasgado (aquela escola era imunda). E quando olhamos a prova o assunto era totalmente diferente hahahaha puts ferrou! No final da aula a Bruna riu tanto, só dava ela dizendo ''eu disse!!!!!!!!''
Outra lembrança que guardo é a nossa gravando vÃdeos, um dos nossos sonhos juntas era de sermos famosas no YouTube, toda vez que dormÃamos juntas nós gravávamos vÃdeos de zoeira. Imitávamos o furo MTV, falávamos mal de varias coisas/pessoas, cantávamos...
Mas nossa grande inspiração era o ''vida de garoto'' (sinto muita vergonha disso) dou muita risada quando lembro. Dei a ideia de fazer um blog com o nome vida de garota (a criatividade reina em mim! Sqn hahaha) também fizemos um orkut.
Mas nunca postamos nenhum de nossos vÃdeos, todos ficavam ridÃculos e a Bruna sempre gargalhava no meio das gravações.
Teve um dia que a gente saiu de aula vaga e fomos a pracinha tirar foto para o blog, no meio do caminho alguém teve a ideia de sair apertando as campainhas (não lembro quem foi). E lá vamos nós, saÃmos apertando váaaarias campainhas e correndo no meio da rua feito loucas. Até que chegamos na pracinha e rimos muitoooo, foi muita criancice da nossa parte, mas confesso que foi bem legal. Tenho as fotos desse dia e ele se tornou especial pelo fato de sermos felizes com tão pouco, cada uma tinha seus problemas em casa e era difÃcil de lidar, eramos adolescentes tentando descobrir a vida e achamos uma na outra um certo apoio e aceitamento que não tÃnhamos em casa. Juntas nós poderÃamos ser nós mesmas, falar o que quisermos que uma sempre ia apoiar a outra. Tivemos brigas? Sim! Mas era aquele puro e velho drama de adolescente que durava apenas o final de semana e em plena segundona voltávamos a nos falar.
Outro sonho nosso era de morarmos juntas em um ap, tudo começou quando achei jogado no carro do meu pai aqueles panfletos de financiamento de apartamento, tinha planta do imóvel e tudo. Levei para escola e mostrei para as meninas. Depois desse dia nosso principal assunto era o apartamento, planejávamos nossas vidas e profissões.
Aconteceram muitas coisas nesse ano, a mãe da Jéssica começou a namorar e resolveu se casar, só que o namorado dela morava em outra região. No começo a gente não ligou, mas ai chegou o momento de dizer tchau, foi doloroso se despedir da nossa amiga/irmã.
No começo ela me ligava quase todas as noites para dizer como era na escola nova e como sua vida estava caminhando e no MSN era uma regra ela entrar.
Final de 2010 foi minha vez de mudar, mudei de bairro mas não de escola. Nessa casa eu tinha um quarto só para mim, sendo assim a Bruna passava dias na minha casa.
O ano de 2010 acabou, mudei de escola e como não morava tão perto de Bruna acabamos nos afastando.
Depois de alguns meses a Jéssica veio passar uns dias na casa de Bruna e as duas aparecem de surpresa na minha casa, nem preciso dizer que gritamos muito e fizemos muita fofoca!
Contei as novidades sobre a escola nova e fui mostrar o bairro para elas.
No meio do caminho pegamos uma chuva brava! Ficamos na porta de uma academia contando os proibidões e segredinhos que minha mãe nunca poderá ouvir hahahahaha!
Lembro do cheiro da chuva, das nossas risadas descontroladas e do chá de pêssego que bebemos.
Nosso ultimo passeio juntas fomos ao cinema do shopping Interlagos, tÃnhamos planejado a dias e estávamos muito ansiosas. De noite recebo uma ligação, era Jéssica dizendo que a mãe da Bruna também ai. Ficamos naquela revolta, eramos adolescentes e querÃamos privacidade, sair sem papai nem mamãe!
Eu e Jéssica eramos mais parecidas, meio rebelde sem causa e a Bruna mais santinha e muito ingenua. Chegamos no shopping puxei a Jéssica e disse ''vamos dar um perdido, quando ela se distrair nos misturamos na multidão e depois a gente encontra elas''
assim fizemos, na primeira oportunidade saÃmos e ficamos andando como se nada tivesse acontecido. A mãe da Bruna ficou desesperada, ligou imediatamente para nós perguntando onde estávamos e a gente dizia que não sabia. Mas a gente sabia sim, sabia tanto que fomos direto a uma loja de camisetas. Depois de um tempão a mãe da Bruna e ela aparecem do nada dando aquele sermão gostoso, nossa cara foi no chão. No fundo ela sabia que a gente não estava perdida, quando ela nos achou ela estava carregando várias sacolas, fez suas compras de boa e nos encontrou.
Se tem uma coisa que eu me arrependo muito é desse dia, nós poderÃamos ter ficado todas juntas e curtido muito. Hoje, eu como mãe dou toda a razão para a dona Marinês (mãe da Bru) 3 meninas de 15 anos saindo sozinhas é muito perigoso, principalmente para um shopping tão longe. Ela me desculpou e depois de muito tempo elas me fizeram uma visitinha básica. Pena que eu trabalhava e não pude passar muito tempo com elas. Esse foi o ultimo dia que estive com ela.
Nossa ultima conversa foi em Março de 2014, eu já estava casada e grávida pela segunda vez. Perguntei se ela queria comprar ovos de páscoa pois fiz alguns ovos para vender naquele ano e ai conversamos sobre o primeiro namorado dela e que ela queria conhecer o zoológico (fica perto da minha casa).
Dia 3 de Abril, estava com algumas encomendas para fazer, fiquei o dia inteiro fazendo ovos. Estava com 38 semanas de gestação e minha mãe estava me ajudando. Sentei para descansar e olhar o facebook e foi ai que vi uma postagem muito estranha dizendo ''que Deus console a famÃlia da Bruna Telles'' de imediato pensei que fosse algum parente, mas eu curiosa que sou fui perguntar o porquê daquilo e foi ai que recebi a seguinte mensagem ''Ela estava doente e por erro na medicação que o médico passou ela ficou alérgica e não resistiu''
Vi o mundo cair na minha cabeça, fiquei em desespero e comecei a ligar para o celular dela, cheguei a pensar que aquilo tudo era mentira e ela iria me atender. Comecei a chorar e o celular só chamava. Liguei para Jéssica e contei, choramos muito até que tive coragem de olhar a pagina dela e vi várias mensagens de despedida e pessoas que assim como eu não se conformavam com a sua perda. Passei mal durante 5 dias, tive muitas crises de choro, meu bebê que era para nascer dia 22 nasceu dia 8. E no hospital eu pensava muito em você e no porquê disso tudo ter acontecido.
E é com muitas lágrimas que escrevo isso, eu Aline, de coração amei muito você! E me arrependo muito de não ter sido a amiga que você merecia. Demorei meses para escrever isso, por falta de coragem e por vergonha de ter sido uma péssima amiga. Eu sinto muito a sua falta, você nunca esqueceu de mim e sempre me apoiou. Depois de sua morte tentei contato com seu pai, ele não me respondeu. Não tive coragem de visitar sua mãe, sou fraca de mais e sei que se eu ver suas coisas vou desabar em lagrimas. Hoje depois de muito tempo mandei mensagem para a Jéssica, fazia anos que não mandava nem um oi. Dias atrás mandei um ''feliz aniversário'' e ela me respondeu ''obrigada moça'' foi ai que vi, que toda nossa intimidade e amizade tinham se ido com o tempo. Sinto muita saudade de você, meu coração está apertado tá doendo muito e eu não consigo parar de chorar.
Quero que você saiba que estou fazendo de tudo para reatar a minha amizade com a Jéssica e vou entrar em contato com seus pais, eu te devo isso!
Bom, resumi muita coisa e quero pedir desculpas pelo desabafo mas eu precisava por pra fora isso tudo, toda minha culpa e toda essa saudade. A saudade dói, machuca de mais, mas eu tento lembrar só das coisas boas que vivemos. Hoje mais madura, vejo as coisas com um angulo diferente e todos os meus erros me serviram como aprendizado e minha grande lição foi de dar valor enquanto há tempo. Descanse em paz Bru, eu te amo!